Introdução ao Barroco

A cada visita que eu faço em Ouro Preto, fico encantado pelo Barroco e sabe o melhor? Esse movimento também marcou o século XVII e XVIII.

Tendo um início com a Prosopopéia (1601) de Bento Teixeira, essa escola literária pode te surpreender e eu apresentarei o porquê.

Pegue o bloco de notas, pois abordarei o Barroco ao longo desse texto. De uma forma leve e que te fará ter vontade de saber mais sobre.

Barroco Europeu

A primeira coisa que tenho que comentar é sobre a necessidade que o Barroco observou: a necessidade de artistas atenderem as demandas do público ao mesmo tempo que tem que está em sintonia com as novas tendências (Oliveira, 2005).

Essa dualidade — entre servir aos patrocinadores dos projetos barrocos e, ao mesmo tempo, inaugurar uma nova sensibilidade a cada obra — faz essa escola literária ser bem interessante de se explorar.

Dentro dessas tendências que surgiram na época, duas que gosto bastante são o dualismo e o cultismo presente no Barroco.

• Dualismo: o sagrado é questionado ao mesmo tempo que não deixa de ser presente na vida das pessoas. É um ambiente de dúvida.
• Cultismo: calma, não é nenhum ritual duvidoso. Essa palavra se refere ao caráter culto, rebuscado, cheio de figuras de linguagem presentes nos textos do Barroco.

Se por um lado temos essas tendências/características, também teremos fatores históricos que influenciaram a produção da época, principalmente na Europa.

Contexto Histórico do Barroco e autores europeus

Listarei 5 itens para você ter noção do que rolava na época:

• Final do Renascimento e início da Idade Moderna;
• Período de instabilidade religiosa (Reforma x Contrarreforma);
• Surgimento das monarquias absolutistas;
• Avanços científicos e filosóficos;
• Intensificação do colonialismo europeu. 

Para ter história, também teremos que ter pessoas para construí-la e darei destaque para essas duas figuras do Barroco Europeu com alguns trechos de suas obras:

Padre Antônio Vieira (1608–1697): tem um estilo de texto religioso e cercado de metáforas em seus textos. Sua obra mais famosa é Sermões.

Aqui vai uma pitada de seu estilo:

Soneto do Padre Antônio Vieira em resposta ao antecedente de seu irmão

Sobe Bernardo da Eternidade ao Mapa,

Deixa do velho Adão a mortal cepa,

Pelo Lenho da Cruz ao Empírio trepa,

Começando em Belém na pobre Lapa.

Mais que Rei pode ser, e mais que Papa,

Quem de seu coração vícios decepa,

Que a grenha de Sansão, tudo é carepa

E a guadanha da morte tudo rapa!

A flor da vida é cor de tulipa,

Também dos secos anos é garlopa

Que corta, como ao mar, corta a chalupa.

Não há mister que o fosso corte a tripa,

Se na parte vital já tudo topa,

É apa, epa, ipa, opa, upa.

Fonte: Link

Sóror Mariana Alcoforado (1640-1723): freira portuguesa famosa pelas Cartas de Amor ao cavaleiro de Chamilly. 

Abaixo um breve trecho da Segunda Carta:

Sou bem desgraçada, se nenhuma ocasião encontraste para o fazer depois da tua partida, e mais desgraçada ainda, se tendo ocasião, me não escreveste!… 

A tua injustiça e a tua ingratidão são extremas; mas afligir me-ia desesperadamente, se te careassem algum infortúnio; pois antes quero que delas não recebas o castigo, do que ver-me vingada.

Fonte: Link.

Saindo um pouco da Europa, mas mesmo assim tendo sua influência, chegou a hora do Brasil.

Barroco no Brasil

Enquanto na Europa o Barroco estava a serviço de Estados consolidados, no Brasil ele chegou como uma cultura transplantada, trazida pelos jesuítas no contexto da colonização. 

Apesar dos modelos europeus ser uma base da produção barroca, nacionalmente, essa escola literária se transformou no Brasil devido a realidade colonial do Brasil e um óbvio toque das pessoas que viviam no território na época.

A Prosopopéia de Bento Teixeira é um marco inicial, mas é com Gregório de Matos e o Padre Antônio Vieira que o Barroco brasileiro ganha contornos próprios. 

Gregório, pouco famoso pelo apelido de “Boca do Inferno”, mesclou o linguajar erudito com expressões populares, satirizando a sociedade baiana do século XVII. 

Também em tom de critica Vieira usou a retórica barroca em seus sermões para criticar a corrupção e defender povos indígenas.

Esse texto tem foco na literatura, mais vale uma menção também a Aleijadinho como uma grande figura do Barroco mineiro.

Lembra de Ouro Preto que citei no começo… então… diversas obras dele estarão disponíveis para você ver de perto na cidade.

Fonte: (GuiaViajarMelhor, 2020)

Com certeza vale a pena você ver obras do Barroco nacional para entender um pouco mais sobre a sua história e até se inspirar um pouco.

Eu mesmo quando caminho pelos morros de Ouro Preto me inspiro a fazer um texto com a ambientação do lugar.

Quem sabe eu não traga um Barroco espacial? Totalmente maluco quanto o conto Eletrizante?

Talvez um dia, pois agora falarei sobre o legado dessa escola literária.

Considerações finais

O Barroco foi um período de contradições: serviu ao poder absoluto, mas também abriu caminho para a individualidade artística; foi um veículo de propaganda, mas também uma expressão de resistência, como nas pinturas de Artemisia Gentileschi.

No Brasil, ele se adaptou à realidade colonial ao misturar traços locais e ao ajudar a construir uma identidade cultura própria.

Mais do que uma escola literária, o Barroco nos faz refletir principalmente sobre a questão da dualidade. O profano vs divino, culto vs coloquial e etc. 

Há muitas questões duplas dentro dele, assim como na sua vida. Que tal se inspirar no Barroco e fazer uma poesia sobre seus temas pessoais?

Será um desafio interessante para você. Se quiser outras influências para elaborar o texto da sua vida, fique à vontade para explorar a Biblioteca cósmica.

Referências

ARAUJO, João Paulo da Silva. MULHERES ARTISTAS NO BRASIL: QUESTÕES HISTÓRICAS E CONCEITUAIS DO BARROCO EUROPEU ATÉ A CONTEMPORÂNEIDADE. DOI: 10.33947/1980-6469-v14n1-3658. Revista educação. Disponível em: Vista do MULHERES ARTISTAS NO BRASIL: QUESTÕES HISTÓRICAS E CONCEITUAIS DO BARROCO EUROPEU ATÉ A CONTEMPORÂNEIDADE. Acesso em: 24 jun. 2025.

FILHO, Rubem Barboza. Barroco Nossa origem e Singularidade. Acervo, Rio de Janeiro, v. 19, nº 1-2, p. 7-22, jan/dez 2006 – pág.7. Disponível em: Vista do Barroco: Nossa origem e singularidade. Acesso em: 24 jun. 2025.

GUIA VIAJAR MELHOR. Obras de Aleijadinho em Minas Gerais. [Imagem]. Disponível em: https://guiaviajarmelhor.com.br/wp-content/uploads/2020/01/Obras-Aleijadinho-Minas-Gerais.jpg. Acesso em: 24 jun. 2025.

OLIVEIRA, Carla Mary S. Construindo teorias sobre o Barroco. ResearchGate. 2005. Disponível em: saeculum_13.pmd. Acesso em: 24 jun. 2025.