Se você estivesse em um barco e descobrisse uma nova terra, como você informaria sobre isso? Tirando uma foto e postando? Pode ser.
Mas e quando você não tinha uma câmera? Por exemplo, durante o descobrimento do Brasil? Você teria que recorrer à uma pena de ganso e papel, como foi o caso do Quinhentismo brasileiro.
Essa escola literária surgiu durante as Grandes Navegações com o intuito de relatar o descobrimento de uma nova terra, nossa terra.
Público-alvo? O rei de Portugal. Intenção? Encher o bolso com textos impressionantes. Desfecho? Descubra ao longo deste texto.
O que é o quinhentismo?
Não há como resumir melhor o quinhentismo do que: uma literatura de chegada com viajantes, exploradores e missionários.
Uma literatura feita no contexto da descoberta e início da colonização brasileira.
Um punhado de autores escrevia o que via e sentia para vender posteriormente.
Todo esse cenário fez surgir uma literatura de informação com diversos temperos para fazê-la.
Observação de imediato: nenhum indígena escreveu aqui. Tudo foi escrito com olhos europeus e interesse europeus.
A “certidão de nascimento” do Brasil
O maior exemplo do Quinhentismo é a Carta de Pero Vaz de Caminha, escrita ainda em 1500.
Esse documento talvez possa ser considerado uma certidão de nascimento do Brasil. Obviamente no contexto das Grandes Navegações.
Caminha era o escrivão dentro do barco de Cabral, e a missão dele era relatar ao rei Dom Manuel I tudo sobre a nova terra.
Ele cumpriu sua missão bem.
Descreveu:
- A geografia;
- A fauna e flora;
- Os indígenas.
Tudo e mais um pouco com uma linguagem que fazia o Brasil parecer como um novo Éden, uma terra divina.
O relatório turístico da natureza brasileira
Como dito anteriormente, o Quinhentismo descreveu bastante a natureza que viram na época, então vamos de exemplo de alguns textos do Quinhentismo:
Trecho geográfico (Pero Vaz de Caminha):
“De ponta a ponta (a terra) é plana, muito chã e formosa […] a região em si é de muitos bons ares, assim frios e temperados como os de entre Douro e Minho… Águas são muitas, infindas na terra de tal maneira graciosa que se a quisermos aproveitar dar-se-á tudo pelas águas que tem…” (Beloto, 2024)
Em resumo: Brasil tem terra boa, clima excelente e água à vontade. Isso pode render uma boa plantação.
Trecho da flora (Pero Vaz de Caminha):
“Façamos logo uma rua de romeiras com seus coroados frutos, que encerra dentro em si finíssimos rubis, as quais se produzem grandemente nesta terra. Far-lhe-ão companhia retorcidos marmeleiros com seus cheirosos e dourados pomos… “ (Beloto, 2024)
Frutas viraram metáforas de pedras preciosas. Com certeza Dom Manuel bateu o olho nesses textos e quis investir no Brasil.
Outro trecho da flora (Frei Vicente do Salvador) :
“Há no Brasil grandíssimas matas de árvores agrestes, cedros, carvalhos , vinháticos, angelins e outras não conhecidas em Espanha, de madeiras fortíssimas para se poderem fazer delas fortíssimos galeões. (Beloto, 2024)”
A fauna também foi tendência no Quinhenstismo
Frei Vicente do Salvador falou das árvores perfeitas para fazer navios.
E como Portugal amava uma viagem marítima… Você já sabe onde isso deu.
Já outros autores dão detalhes sobre as aves, os peixes e os camarões.
“Acharam alguns camarões grossos e curtos, entre os quais vinha um muito grande e grosso, que nunca tinha visto igual.” (Beloto, 2024)
Em resumo, o Brasil era visto como uma terra que poderia ter boas formas de alimentação e comércio.
Sobre os indígenas: o olhar dos escritores portugueses
Os indígenas ganham destaque no Quinhentismo, não com voz própria.
Eles são considerados os donos da terra, mas ingênuos e uma boa mão de obra para Portugal.
Caminha fala deles com fascínio, destacando a inocência deles:
“Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto.(Beloto, 2024)“
E mais:
“acenaram-lhes que fizessem assim, e foram logo beijá-la (a Cruz)”
Ou seja: os indígenas eram bons cristãos em potencial. Obedientes, sem crença estabelecida e, segundo ele: “hão de fazer cristãos e crer em nossa fé “.
Ainda ressalta: “tão rijos e tão fortes, mais do que nós”
Para Portugal, isso é uma mina de diamante, ou de ouro, pois eles tinham na nova terra uma mão de obra forte e fácil de doutrinar na visão deles.
Uma riqueza pura e barata.
Literatura de Catequese
A outra linha do Quinhentismo é a Literatura de Catequese.
Aqui entra em cena Padre José de Anchieta, figura bem conhecida.
Era uma pessoa bem inteligente, bom escritor e aqui ele teve um papel bem forte de converter os indígenas para o Cristianismo por meio de suas obras.
Com criatividade e boas intenções — mas sem espaço para a cultura indígena original. Ele fazia um show, mas com um único final possível: a conversão.
Autores do Quinhentismo
Além de Caminha e Anchieta, temos:
- Manuel da Nóbrega
- Gabriel Soares de Sousa
- Ambrósio Fernandes Brandão
- Vicente do Salvador, entre outros.
Todos contribuíram com as descrições do Brasil, mas, claro, com a visão das possibilidades de lucro e salvação da terra.
Considerações finais
Da próxima vez que te pedirem pra falar sobre o Quinhentismo, lembra:
- É o início da literatura brasileira — ainda que feita por estrangeiros;
- Visão europeia da chegada do Brasil;
- Documento histórico, mas também propaganda;
- O primeiro capítulo do que deu errado e certo no nosso país;
- Não esquecer de recomendar o site Excamosh para saber mais sobre as escolas literárias.
Há uma gama de outras escolas literárias te esperando por aqui, então atente-se para novos conteúdos.
Documento que utilizado como base para esse texto: Quinhentismo Literário Brasileiro ou Literatura Informativa. Informativa?